terça-feira, 23 de março de 2010

Em era de queda de vendas, grande contrato para espólio de Jackson

Será que Michael Jackson conseguirá reverter a maldição que pesa sobre os grandes contratos da indústria da música?

Ao longo dos anos 90, uma era de vendas muito fortes de CDs, as gravadoras rotineiramente assinavam contratos multimilionários de gravação com seus artistas. Parte do motivo era vaidade: gravadoras pagavam mais para manter seus maiores astros, de preferência a aguentar zombarias na imprensa caso perdessem um deles para uma companhia rival.

E a despeito da queda vertiginosa na venda de álbuns na década passada -em 2009, as vendas de CD foram 50% inferiores às de 2000-, os grandes contratos continuaram a ser assinados. O contrato de US$ 80 milhões e cinco discos de Mariah Carey com a EMI, assinado em 2001, durou um disco; a gravadora terminou pagando multa de US$ 28 milhões pela rescisão do acordo.

"Se você voltasse 10 ou 20 anos no tempo, teria condições de fechar acordos meio absurdos", diz Russ Crupnick, analista sênior de entretenimento do NPD Group, uma companhia de pesquisa de mercado. Os artistas médios de uma gravadora vendiam discos suficientes para atenuar os custos adicionais desses contratos. Mas a queda no número de álbuns que chegaram ao disco de platina, de 179 em 2000 para 45 em 2009, resta pouca gordura nas gravadoras para esse fim.

"Hoje em dia, é mais difícil", disse Crupnick. "Não se pode mais ser tão generoso apenas para garantir um nome na gravadora".

Mesmo assim, o Epic Label Group, da Sony Columbia, que trabalhou com Michael Jackson por mais de 30 anos, anunciou um contrato no valor de US$ 250 milhões -talvez o maior de todos os tempos- com o espólio do astro pop.

Nos termos do acordo, a Sony vai lançar 10 projetos -provavelmente uma combinação de álbuns, DVDs, gravações ao vivo e talvez até um videogame- até 2017. O novo contrato também prorroga a vigência dos direitos da gravadora sobre os discos anteriores de Jackson. Para o espólio de Jackson, o contrato ajudará a aliviar uma pesada carga de dívidas, avaliada em pelo menos US$ 300 milhões na data da morte do cantor, acumuladas ao longo do tempo devido aos gastos descontrolados de Jackson. Mas para a Sony, o contrato parece à primeira vista representar uma grande aposta de que o setor musical em queda se recuperará -especialmente porque os termos do acordo transferem os direitos sobre as gravações à empresa, mas não lhe dão o direito de comerciar mercadorias ou os direitos autorais das canções, e conferem apenas direito limitado de uso de imagem.

"Obviamente o contrato tem um valor que atrairá manchetes. O que imaginei que viria depois disso seria uma referência a direitos de imagem", disse um consultor do setor de música, que pediu que seu nome não fosse revelado a fim de proteger seus relacionamentos no setor. "Fiquei surpreso quando descobri que se referia apenas a gravações e direitos de licenciamento de música".

A despeito dos direitos limitados e do histórico não muito positivo dos grandes contratos de gravadoras, a Sony confia em que se sairá bem do negócio. A companhia aponta para o sucesso comercial continuado de Jackson, uma situação que só se repete no caso de alguns outros grandes músicos já mortos, a exemplo de Elvis Presley. O filme Michael Jackson This is It faturou mais de US$ 260 milhões em todo o mundo, e 75% desse total fora dos Estados Unidos, de acordo com a Box Office Mojo, que acompanha o faturamento de filmes. Além disso, mais de metade dos 31 milhões de álbuns de Jackson vendidos desde que ele morreu, em junho, foram comerciados fora dos Estados Unidos.
E se o acordo funcionar bem para a Sony, pode representar novo sinal de que superastros -mortos ou vivos- ainda dominam o setor, talvez mais que nunca, a despeito das proclamações de que a Internet ajudaria a equilibrar a disputa.

No ano passado, Jackson vendeu 8,3 milhões de álbuns nos Estados Unidos, quase o dobro da segunda maior vendedora, Taylor Swift, de acordo com a Nielsen SoundScan. Os Beatles ficaram em terceiro. E na semana passada, um novo álbum com material ainda inédito de Jimi Hendrix, morto em 1970, era o quarto na lista dos mais vendidos.

De acordo com pesquisa conduzida por Will Page, economista chefe da PRS for Music, uma organização sem fins lucrativos que recolhe direitos autorais no Reino Unido e representa artistas e editoras de música, a distância entre os astros e os artistas que atendem a gostos mais especializados é mais ampla nos sites de música online do que no varejo físico.

No seu estudo sobre o We7, um serviço de música britânico em formato stream, 5% dos milhões de faixas disponíveis responderam por 90% do volume total de música executada. Nas lojas tradicionais, disse ele, 20% do estoque respondem por 80% das vendas.
Fonte: Terra e The New York Times (matéria de Joseph Plambeck).

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