terça-feira, 12 de outubro de 2010

Muito som, caos e indiferença à causa marcam Festival

Terminados os três dias do Festival SWU, que ocupou, de sábado a segunda, as dependências da Fazenda Maeda em Itu, interior de São Paulo, é possível dizer que o evento foi um excelente acontecimento musical, talvez um dos maiores do ano. Mas só. Se a causa sustentável era de fato um dos motes principais do SWU, a missão de Eduardo Fischer, organizador do festival, não teve muito sucesso. Bem como o planejamento sobre o acesso e saída dos shows. Do lado de dentro, música; de fora, caos. A mensagem de responsabilidade ecológica não contagiou o público que se focou mesmo na parte musical. Essa sim digna dos maiores elogios.

Fischer reuniu, em três dias, nomes muito importantes do cenário da música internacional. Atraiu atenção para seu evento e pode ter feito nascer, neste 2010, mais um grande festival para animar o segundo semestre dos fãs. Tomara. Se este é o nascimento do SWU como um evento anual, a estreia é bastante positiva. Permitiu que os brasileiros assistissem a Rage Against The Machine em noite muito inspirada. Matou a saudade do público cativo do Los Hermanos. Mostrou que, com três músicas, uma banda tão datada quanto Sublime pode fazer 50 mil pessoas delirarem. E deixou roucos milhares de adolescentes com Linkin Park. Teve atração para todo gosto.
Rage e Queens fizeram os melhores shows
Um no primeiro, outro no último dia. Rage Against The Machine foi a atração principal da primeira noite do SWU e não decepcionou. Fez uma apresentação espetacular e coesa. Completamente diferente de qualquer banda que sofra uma interrupção em suas atividades. Em pouco mais de uma hora, o quarteto americano mostrou suas porradas sonoras e teve certeza que o tempo em que estiveram parados não apagaram as letras das canções de protesto da memória das quase 50 mil pessoas que compareceram.
Bandas completamente diferentes no estilo, Los Hermanos e Infectious Groove foram outros nomes de destaque na primeira noite.
O grupo carioca matou a saudade dos fãs em um show bastante honesto com suas canções acompanhadas em coro pela plateia. Camelo, Amarante, Medina e Barba enfrentaram sem problemas o desafio de tocar no mesmo palco de Rage Against The Machine e não se intimidaram. Saíram do SWU - mais uma vez - aclamados.
Já o Infectious Groove, do vocalista Mike Muir, contou com a legião de fãs de sua outra banda, o Suicidal Tendencies, para esquentar o show do primeiro dia. Pancadas sonoras e promessa de retorno marcaram a apresentação. O último destaque positivo do sábado foi The Mars Volta que implodiu o palco com uma apresentação bastante acelerada e barulhenta. Nada menos que o típico deles.
No domingo o troféu de melhor show sofreu para encontrar alguém digno, e acabou ficando nas mãos do Sublime With Rome. O sol já começava a se esconder quando o grupo tomou o palco Água. A multidão, estimada em cerca de 56 mil pelos cálculos superlativos dos organizadores, foi fisgada de cara pela banda californiana. Hits com pelo menos 10 anos de vida fizeram o público vibrar. Uma massa de gente que o Sublime raramente encontra em algum de seus shows. O título de melhor show do festival só saiu das mãos de Tom Morello e companhia na segunda-feira à noite, quase aos 45 minutos do segundo tempo, quando Josh Homme subiu ao palco com o Queens Of The Stone Age. Tocando em volume absurdo e com um repertório implacável, a banda foi a melhor da segunda-feira no SWU. A trinca final do show com Go With Flow, No One Knows e Sound For The Dead atropelou os fãs sem dar tempo de reação.
O dia das bandas mais pesadas contou com boas apresentações. O Cavalera Conspiracy, dos irmãos Max e Igor, mostrou que os fãs do Sepultura seguem órfãos da sagrada família do metal brasileiro. Avengend Sevenfold e Incubus fizeram apresentações impecáveis. Leia-se, entenderam completamente o significado de tocar em um festival do porte do SWU e não arriscaram no repertório. Quase o mesmo espírito do Pixies que, apesar de demonstrado um pouco de falta de vontade no show, conta com um repertório belíssimo para garantir a diversão.
Kings Of Leon e Linkin Park desapontam
A lição acima não parece ter sido estudada pelos integrantes das bandas responsáveis pelo encerramento da segunda e terceira noites do SWU.
Kings Of Leon no domingo e Linkin Park na segunda foram os grandes fiascos em apresentações vergonhosas.
O show frio que o Kings of Leon fez em 2005 no Tim Festival, em São Paulo, acabou se repetindo em 2010 no SWU.
Tamanha responsabilidade que a banda ganhou nos últimos anos de "ser o novo U2" - título também disputado por grupos como Coldplay e The Killers - parece ainda ser demais para o quarteto da família Followill ao enfrentar grandes arenas.
Com a pista muito esvaziada após as vibrantes apresentações de Queens Of The Stone Age e Pixies, a seção roqueira do último dia do Festival SWU terminou em clima desolador e de fim de festa.
Com a missão de encerrar o evento, o Linkin Park falhou na escolha do setlist e promoveu uma apresentação instável, cheia de altos e baixos e teve que apelar a já clássicos do primeiro disco para arrancar alguma reação mais forte do público. Teve direito a bocejos, intervenções completamente incompreensíveis em vídeo e até um playback descarado nos backing vocals de No More Sorrow .
Dois palcos e pontualidade
Qualquer fã que esteja acostumado com festivais sabe que pontualidade e deslocamento entre palcos e tendas nunca é o que parece quando se chega num evento do porte do SWU. Nesse caso, a organização surpreendeu positivamente. A montagem dos Palcos Água e Ar lado a lado facilitou tanto o deslocamento do público quanto a pontualidade das apresentações. Quase nada atrasou e, uma vez na arena principal, não era difícil andar de um palco a outra para conferir os shows. A exceção foi a apresentação do Queens Of The Stone Age na segunda que sofreu atraso de uma hora.
E quanto ao deslocamento, os problemas só apareciam quando o show acontecia no palco Oi Novo Som e Heineken Greenspace que ficavam mais distantes da arena principal até por conta da acústica. Subir o terreno até a parte alta da Fazenda Maeda era bastante cansativo às vezes. Por outro lado, o próprio terreno acidentado facilitava para o público. A distância de certos locais da pista comum para os palcos principais eram compensada pela inclinação do terreno que facilitava a visualização dos shows.
Nada de chuva, mas caos e pó
A previsão estimava, dias antes da abertura do SWU, até 80% de chances de chuva na região de Itu no fim de semana do festival. São Pedro errou feio e a chuva nunca deu as caras apesar de certa nebulosidade no início da tarde dos dois primeiros dias. Em compensação, o frio deu as caras no SWU. O pôr do sol derrubava muito a temperatura e o descampado era prato cheio para um vento gelado. Só o moleton não dava conta do frio, e quem estava só de camiseta padeceu. Além, é claro, das dezenas de ambulantes que tentavam vender capas de chuva.
A chuva não veio. Mas vieram caos e pó. A entrada e saída do público nos dois primeiros dias só pode ser traduzida assim. Entradas mal sinalizadas, funcionários desinformados, muito pó, filas e espera de até 3 horas para se conseguir um ônibus que levasse o público ao estacionamento foram os relatos mais comuns de quem foi ao festival nos primeiros dois dias. A lição que fica é que, levar 150 mil pessoas em três dias para Itu não é tarefa fácil. Mas quem sabe, com um pouco mais de capricho nesses serviços essenciais para quem paga um ingresso tão caro, um eventual SWU 2011 poderia arrastar para o interior um número ainda maior.
Fonte: Terra (texto de: Renato Beolchi e Osmar Portilho)

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